MEMÓRIAS... REVISITANDO O PASSADO
Relembrar nossa trajetória de vida é sempre algo especial. O filme que se passa no esconderijo do nosso “eu” revela nossas lutas, conquistas, vitórias, medos, ansiedade. É diante desse filme que chegamos à conclusão de que o importante na vida é lançar-se na e para a própria vida.
Uma parte do que nos acontece e do que realizamos é efêmera. Outra, firme companheira da vida inteira. E é justamente nessa segunda possibilidade que se encaixa a influência de uma das brincadeiras preferidas de minha infância: a escolinha.
Nessa brincadeira, sempre convencia os amiguinhos a serem os “meus alunos”. Num quarto do final da casa, improvisava uma lousa, arranjava folhas e lápis e ia alfabetizar e ai daquele que deixasse letra borrada ou manifestasse indisposição para cumprir as tarefas. Era sermão na certa.
Dessa forma, já havia definido minha profissão: seria professora. Para mim, nada nem ninguém poderia mudar essa decisão. Nem mesmo a insatisfação do meu pai diante de minha vontade. Ele sempre advertia: Minha filha, você gosta tanto de estudar! Não queira ser professora. Não tem futuro. (Naquela época o salário dos professores era ainda menor que o de hoje). Ainda assim continuava me imaginando com a “tia Linéia” e continuava encantada pelos meus cadernos, cartilhas e tudo que me enchesse os olhos de letras.
Minha alfabetização foi marcada por muito carinho. As “tias” sempre me estimulavam a ir cada vez mais longe no aprendizado e o gosto pela leitura e pela escrita sempre me acolheu no universo escolar. Quanta saudade da minha cartilha “João e Maria”!. À revelia de todas as críticas de especialistas do ensino quanto ao método silábico, foi essa amada cartilha que me abriu as portas do conhecimento.
Consigo relembrar os textos soltos, mas encantadores para mim naquele momento (João vê o mato. Maria vê o mato...), as músicas que separavam uma lição da outra, as gravuras e as famílias silábicas nos quadradinhos azuis da cartilha; tudo com cheiro de descoberta!
E assim fui me lançando na vida escolar: com um acentuado gosto pelo estudo permeado pelas inumeráveis traquinagens próprias da infância. Vivi intensamente cada ida à escola, sempre me imaginando no lugar de minha alfabetizadora “tia Albânia.”
Em casa não havia livros para leituras extras. Contudo, o incentivo para ler toda e qualquer historinha que chegasse às minhas mãos através de empréstimo ou de presentes de uma de minhas tias esteve sempre presente.
Embora meus pais tenham cursado apenas o Ensino Fundamental (incompleto), a valorização do estudo, o apoio e acompanhamento à escola nunca me faltaram. Nem a mim e nem aos meus três irmãos.
No final da tarde, quando o fusca amarelo de meus pais apontava na esquina da rua, sabia que era hora de nos reunirmos para ouvir como fora a viagem (as vendas). Depois disso, os vendedores ambulantes de confecção sempre perguntavam: E na escola, como foi?
Envolvida por esse incentivo, me dedicava cada vez mais. Sabia que aquilo enchia meus pais de orgulho. E dentre os quatro filhos do casal, coube a mim receber o maior investimento nos estudos, dada a minha dedicação à escola. Assim, no início do Ensino Fundamental II, em 1987, fui matriculada em um dos melhores colégios particulares da cidade até que concluísse o Ensino Médio, o que me auxiliou na aprovação no vestibular em 1995.
Em 1998, aquela brincadeira de infância tornou-se realidade. Inscrevi-me num concurso municipal e aprovada, iniciei minha vida profissional na educação em um Distrito de Quixadá, Juá – situado a 36 km da sede do município.
Era, então, professora polivalente em uma turma de 8ª série. Em 2001, o município me fez um convite para assumir a coordenação pedagógica de outro Distrito: Várzea da Onça.
O desafio era grande, mas, em 2001, deixei meu amado Juá, onde lecionei nas séries iniciais e finais, e em todas as disciplinas. Trazia de lá um exemplo de humildade do gestor, o companheirismo dos colegas, a acolhida da comunidade e o carinho e saudade de minhas turmas.
No novo local de trabalho, permaneci na coordenação até 2003, quando a então Secretária me convidou para assumir a Direção do Distrito. Novamente aceitei e vivi experiências muito positivas e desafiadoras na Várzea.
Em 2004, o Estado convocou os aprovados no concurso que fora realizado em 2003 e aí decidi colocar a minha função à disposição, pois compreendia ser inviável conciliar a Direção com as aulas da escola estadual, onde já era professora temporária.
Ao entregar a função da rede municipal, recebi o convite para integrar a equipe da Secretaria Municipal da Educação, onde permaneço até hoje.
As experiências em diferentes lugares e redes de ensino possibilitaram o conhecimento de diferentes contextos e de seus respectivos desafios e possibilidades. Além disso, testemunhei que muitas sementes são lançadas dia a dia no chão das escolas. É preciso, contudo, que haja determinação, compromisso e sensibilidade do educador para fazer germinar a semente. Assim, florescerá a aprendizagem.
Linéia Moreira Maciel
sábado, 24 de outubro de 2009
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